MENSAGEM SUBLIMINAR

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Ah, como são dissimulados os ipês. Eles mal conseguem disfarçar a alegria e se desmancham em cores, enchendo de vida as calçadas e ruas. Na exuberância do amarelo ouro, no roxo e no rosa que enternecem qualquer olhar, na candura do branco. São infinitos os contrastes para anunciar, sem falsa modéstia, que sabem de tudo e mais. Senhores do tempo, antecipam que a renovação se faz necessária.

Eles nem tentam esconder — nem mesmo que quisessem, com todo este esplendor assumido — que a primavera está entrando na nossa existência. A graça e maestria com que nos conduzem pelas vielas do porvir são tão discretas, que quando nos damos por conta, mais uma estação atua em nossas vidas. E atarefados, a cabeça empenhada em mover a Terra, não paramos para apreciar este espetáculo. Seguimos, ainda, por um bom tempo, com a alma tingida de gris.

Como são dissimulados os ipês. Espreitando a nossa passagem em cada esquina, numa praça, disfarçados entre outras árvores. Sempre empenhados em mostrar que a vida ressurge do cinza, com força embalada em delicadeza. E vamos passando, alheios à mensagem subliminar. Mas eles insistem. Não desistem. Até nos darmos conta que é hora de assumir o escoar do inverno, que a intempérie pior já passou e é tempo de revelar, também, nossa cor. 

Ah, como são dissimulados os ipês. Enquanto vamos apreciando sua beleza, que em um momento beira o despudor, a transição vai ocorrendo lentamente, premeditada. Mas sempre há aquele que percebe os meandros da natureza, que se desvia da marcha cadenciada do batalhão e consegue admirar, a olho nu, a vida acontecendo em todos os tons. E, mais uma vez, os ipês cumpriram seu papel. Mesmo assim, não se furtam a uma última tentativa: lançam suas flores displicentemente ao chão, para resgatar do concreto os distraídos que não tiveram tempo de olhar para cima.

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